Conselhos à Amiga - Ovídio
Não sejas exigente demais ao estender tuas redes, para que a presa não te escape: Uma vez agarrada, sabe prendê-la a teu modo. Muitas vezes, um amor fingido não prejudica: faze crer que amas; mas toma cuidado para não amares em pura perda.
Recusa de vez em quando tuas noites, pretextando para isso, uma dor de cabeça, ou a abstinência exigida nos dias consagrados a Ísis; mas que tuas recusas não sejam de longa duração, para que o amado não se habitue à privação, ou que o amor, à força de ser repelido, não esfrie. Que tua porta fechada aos suplicantes, só se abra aos generosos. Que as queixas do amante repelido cheguem aos ouvidos do amante acolhido. Feriste teu amante: zanga-te então, como se ele te houvesse ferido primeiro. Antecede suas censuras com as tuas; mas não te entregues demais à tua cólera: uma cólera prolongada pode, muitas vezes, engendrar o ódio.
Que teus olhos aprendam também a verter lágrimas de encomenda e umedecer-te as faces. Afim de enganar, não temas ser perjura: Vênus torna os deuses surdos às queixas de um amantes enganado. Toma a teu serviço um rapaz e uma moça hábeis, que saibam indicar oportunamente os objetos que se podem comprar para si: pequenos presentes obtidos de muitas pessoas são como um monte de trigo, que cada espiga contribui para aumentar.
Que tua irmã, tua mãe e tua ama obriguem teu amante a contribuir. Obtém-se logo um belo botim, quando há muitas mãos trabalhando para ele. Se te falta um pretexto para pedir um presente, mostra, com a ajuda de um doce, que é dia de teu aniversário.
Está atenta sobretudo a não fazer crer a teu amante, que não existe um rival: sem a rivalidade, o amor quase não dura. Que ele veja em teu leito os sinais de outro possuidor de teus encantos, e em teu seio machucado, as marcas de suas carícias; que veja principalmente os presentes que te fez seu rival. Se ele não trouxer nada consigo, fala-lhe dos objetos novos que se vendem na rua Sagrada.
Quando já lhe tiveres arrancado bastantes presentes, dize-lhe que não se despoje completamente, mas que te empreste apenas aquilo que jamais lhe devolverás. Que tua língua a cative, escondendo-lhe teus projetos; acaricia-o, para melhor perdê-lo: a doçura do mel encobre o mais sutil veneno. Se seguires meus conselhos, fruto de uma longa experiência, se nunca deixares que o vento leve as minhas palavras, quantas vezes haverás de me dizer: "Sê feliz" quantas vezes não pedirás aos deuses para que após a minha morte, a terra me seja leve.